A Festa da Juninha!
Os desafios de transmitir a herança cultural aos nossos filhos
Junho é mês de festa junina! Arraial, quentão, quadrilha e fogueira… Porém, para os brasileiros que moram nos Estados Unidos, Junho é sinônimo de sol, popsicle e férias de verão. Além de se acostumar a um clima diferente, aprender a apreciar novos paladares e falar um novo idioma, brasileiros que moram no exterior tem que se adaptar a uma outra cultura. Quem mora fora do Brasil há alguns anos, sabe muito bem que, com o tempo, a curiosidade e o entusiasmo frente ao novo tendem a transformar-se em melancolia e saudosismo pelas coisas deixadas para trás.
Talvez um dos momentos em que mais sentimos saudades da nossa terra e cultura é quando temos filhos pequenos. Como se já não bastasse o conflito de gerações, estrangeiros com filhos tem que lidar, também, com as diferenças culturais. Perceber que seu filho gosta mais de baseball do que futebol brasileiro, prefere pasta de amendoim ao delicioso pão de queijo e não tem a menor ideia de quem seja o Saci Pererê, pode trazer uma certa frustração. Mas como explicar aos pequenos os personagens folclóricos que fazem parte da nossa herança cultural? Como descrever o rico mosaico étnico que forma nossa cultura? Como transmitir algo que só se aprende vivenciando-se? Esse é , sem dúvida, um dos grandes desafios de pais brasileiros cujos filhos nasceram ou cresceram no exterior.
Lembro-me da primeira vez que tentei explicar aos meus filhos o que era uma festa junina:
– Festa de quem, mommy? – perguntou meu menino.
– Festa da Juninha… – respondeu minha filha, com ares de quem, do alto dos seus poucos anos de vida, já sabe muita coisa.
– Não, não é festa da Juninha… – intervi calmamente. – É festa JUNINA…pois comemora-se no mês de junho.
– Ah, June party! – minha filha concluiu.
– É uma festa bem bacana, com fogueira e bandeirinhas. – continuei.
– Que nem “camp fire, mommy? – perguntou meu filho, olhos arregalados de excitação infantil.”
– Oba! Dá para fazer marshmallow na fogueira!
– Não, crianças… não é acampamento e não dá para fazer marshmallow na fogueira. – respondi, tentando disfarçar minha frustração.
– Uuuh… – o som de decepção saiu, simultâneo, da boca de ambos; num claro indício de que o papo da mãe já não estava mais tão interessante.
– As pessoas se vestem de caipira, dançam quadrilha e pulam fogueira… – insisti.
– O que é caipira, mãe? – perguntou minha filha.
– O que é “quarila”? – perguntou meu filho.
Suspirei, prestes a desistir… Decidi recolher minhas forças e tentar mais uma vez:
– Caipira é quem mora na roça… E não é “quarila” é “quadrilha”…
– Caipira é que nem cowboy! – disse minha filha ao irmão caçula, com ares de professora.
– Não, caipira não é cowboy… – corrigi – Caipira usa chapéu de palha e mora na roça…
Tá difícil! Pensei…melhor deixar para lá.
Nem precisei encerrar a conversa, pois as crianças voltaram a colorir seus desenhos do Mickey e das Princesas da Disney, muito mais interessantes do que o caipira de um país distante. Invadida por uma nostalgia cultural, caminhei lentamente para a cozinha a fim de preparar algo para o jantar. O que fazer? Continuar a conversa, tentando explicar algo que não faz parte do cotidiano deles? Melhor levá-los a uma autêntica festa junina, organizada pela comunidade brasileira local, que aconteceria em alguns dias. E foi isso que eu fiz. Vestidos em calças jeans, com chapéu de palha na cabeça e dente da frente pintado com lápis preto, meus filhos divertiram-se ao som de “Pula Fogueira” e “Capelinha de Melão “. Ganharam brindes na barraca da pescaria, assistiram ao casamento do noivo e noiva caipira e, o melhor de tudo, incluíram em seu vocabulário as palavras caipira, bandeirinha, quadrilha e arraial.
Que legal *.*