Cultura

Um Grito de Independência

Cercado de expectativas, o próximo feriado da independência deverá reabrir a temporada de protestos no país. Em meio aos vários protestos que estão sendo convocados para o dia 7 de setembro, muitos receiam que a data seja marcada por violência, radicalismo e depredações. Já outros acreditam que as manifestações de 7 de setembro alcançarão repercussão mundial e serão um passo significativo para a conquista dos direitos da sociedade civil.

Em meio a tanto barulho, o brasileiro parece esquecer-se do verdadeiro significado do feriado da independência. Será que somos mesmo independentes? Independentes de quem? Será que algum dia quisermos realmente ser independentes? A dura verdade é que o brasileiro vive uma relação mórbida de dependência do governo, mamando em suas tetas e esperando deste a solução para todas as suas mazelas.

Sim, o Brasil tem muitos problemas. Corrupção, alta carga tributária, carência de investimentos em serviços básicos à população, entre outros tantos mais. Porém, acredito que um dos obstáculos mais difíceis de serem superados é a nossa crença de que o governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo; como se fossemos um povo sem poderes iniciadores, indigno de liberdade, e inaptos para a independência. Citando o grande escritor Eça de Queirós: “A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”

A ironia da nossa história é que cobramos dos governantes ética e moralidade, enquanto nós mesmos colocamos os nossos interesses pessoais acima dos interesses da nação. E acostumados a depender do governo para tudo, ficamos esperando alguém sacar a espada às margens do Ipiranga para salvar o país. Enquanto não declararmos nossa independência contra o “jeitinho brasileiro”, contra a cultura de tirar vantagem de uma situação em benefício próprio, não teremos muito o que celebrar em 7 de setembro.

Muitos brasileiros que, assim como eu, moram aqui nos Estados Unidos, comentam que gostariam de participar desse momento histórico do Brasil. Eu sempre digo que a melhor forma de participarmos é através do voto consciente. Os brasileiros que moram no exterior podem, e devem, cadastrar-se junto ao consulado brasileiro de sua região e comparecer às urnas durante as eleições. Acredito ainda que o brasileiro que mora no exterior tem a obrigação de compartilhar com nossos compatriotas na terrinha os exemplos de cidadania e participação ativa que experimentamos a todo momento aqui nos Estados Unidos.

Com protestos ou sem protestos, o brasileiro precisa declarar a sua independência do governo, mudar sua postura, e entender que é apenas através do exercício da cidadania que se muda um país.

Carol Freire

Carol Freire é escritora e mora há 11 anos na região da Baía de São Francisco, Califórnia. Seu romance de estreia "Além das Fronteiras" foi inspirado em sua vivência no exterior, e aborda temas como multiculturalismo e identidade cultural. O livro está disponível em português para leitores nos EUA, Europa e Brasil, através da Amazon e sites das principais livrarias. Para saber mais sobre a autora, visite http://www.carolfreire.com e seu blog http://blog.carolfreire.com. Para contactá-la, envie e-mail para contato@carolfreire.com

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