Lar é Onde o Coração Está
As mazelas da vida de estrangeiro
Diz o ditado que lar é onde o coração está. Mas, algumas vezes, o coração insiste em chamar de lar dois lugares tão distantes. Quem mora fora do Brasil há certo tempo, conhece bem os dramas e alegrias da vida de imigrante.
Muitos brasileiros emigram para os Estados Unidos em busca de emprego, oportunidades e uma vida melhor. Alguns planejam ficar nos EUA apenas alguns anos, o suficiente para juntar dinheiro e poder retornar à terra natal em melhores condições financeiras. Porém, quando finalmente alcançam o sonho do regresso (tendo ou não juntado dinheiro suficiente), percebem que sentir-se em casa é mera ilusão.
Retornar é, praticamente, uma imigração. Tão logo coloca o pé fora do avião, quem retorna percebe que o tempo e a distância deixam marcas profundas. Aquele amigo dos velhos tempos, antes tão chegado e confidente, agora tornou-se quase um estranho. O problema é que as pessoas seguiram com suas vidas e, já faz tempo que o retornado já não é mais parte da vida delas. Mas quem retorna, traz na mala a nostalgia e boas memórias; como se tudo e todos tivessem congelado durante o período em que permaneceu no exterior. Para quem retorna, a sensação é de que se perdeu o bonde da história e, o que antes era tão familiar, tornou-se desconhecido.
Após retornarem ao Brasil, muitas pessoas fazem comparações entre as coisas e a vida no exterior e passam, então, a sentir saudades da vida fora do Brasil. Não raras vezes, quem retorna sofre de angústia e depressão pela vida que ficou para trás. É a chamada “síndrome do regresso”, termo cunhado pelo neuropsiquiatra Décio Nakagawa para designar certo “jet lag espiritual” que “aflige ex-imigrantes”. O choque é sempre inevitável, pois o país, antes abandonado, nunca é o mesmo na volta.
Aqueles que optam por viver fora do Brasil para sempre, também sofrem as mazelas da vida de estrangeiro, carregando consigo eterna saudades e nostalgia. Uma amiga brasileira, que mora há muito tempo nos Estados Unidos, confidenciou-me certa vez, que se sente com o coração divido ao meio e que sabe que nunca mais será feliz por completo. “Quando estou aqui, sinto saudades de lá e quando estou lá, sinto saudades daqui.” – comentou minha amiga. A verdade é que a nostalgia faz-nos esquecer dos problemas da outra terra e lembrar-nos apenas das coisas boas.
Viver no exterior é poder chamar de lar dois países diferentes. É saber duas línguas, vivenciar novas culturas, ampliar os horizontes e desenvolver uma grande capacidade de adaptação a novas situações. Ao mesmo tempo, viver no exterior é aprender a gerenciar a saudades; aprender a dosar a nostalgia e acostumar-se a uma vida de chegadas e partidas, de acenos e despedidas. Viver no exterior é, principalmente, não se incomodar em ser sempre pessoa estranha em terra estrangeira.
DESPEDIDA
Carol Freire
Já me acostumei a esta vida
de acenos de despedidas
e beijos de partida
Saudades invade a alma
quando os abraços se entrelaçam
E o adeus divide
os que vão e os que ficam
Já me acostumei a esta vida
de chegadas e partidas
Em que não posso ter ao meu lado
as pessoas mais queridas
Mas logo a saudade é preenchida
pela presença da alegria
E a lembrança dos momentos
em sua companhia
Aprendi a viver a vida
curtindo o tempo que tenho
entre os beijos de boas vindas
e os acenos de despedida
Claro que vai. Deixa de morar ai para vc ver.
DISCORDO , É RUIM QUE VOU TER SALDADES DO BRASIL, É RUIM