Festas de Fim Ano nos EUA – Abóboras, Peru e Muito Consumismo!
Morar no exterior requer, entre muitas outras coisas, adaptar-se a uma outra cultura e novas tradições. Festas populares, feriados conhecidos e celebrações tradicionais são substituídos por outros que não fazem parte de nossa história e cultura. Os brasileiros que moram nos Estados Unidos acabam adicionando as festas e feriados americanos aos seus calendários; comemorando, muitas vezes, a mesma data duas vezes ao ano.
E agora é a época em que se comemoram duas das principais festas tradicionais americanas. Logo que outubro inicia-se, abóboras, fantasmas, bruxas e aranhas tomam conta das ruas e casas, em preparação ao Halloween. Crianças fantasiadas batem de porta em porta, gritando em coro: trick or treat! E o mês de novembro chega tão rápido quanto as crianças esvaziam seus cestos de balas e doces. Aos poucos, a temperatura esfria e o aroma de canela e maçã impregna as casas e lojas. As abóboras dão espaço aos enfeites com imagens de peru e temas de outono, já em contagem regressiva para o Thanksgiving.
Celebrado na quarta quinta-feira do mês de novembro, o dia de ação de graças significa famílias reunidas em torno da mesa farta para saborear o tradicional peru assado. No país do consumismo, o feriado significa, também, o início do período de compras de final de ano. O dia seguinte ao Thanksgiving, conhecido como Black Friday, marca o início do período de compras de natal, com as lojas em todo os país abrindo suas portas às 4 horas da madrugada, para atender a uma fila imensa de consumidores enlouquecidos com os preços baixos e descontos incríveis.
Para os brasileiros que moram nos Estados Unidos, essa época do ano pode trazer um certo saudosismo da terra natal. Talvez seja o fato de Thanksgiving representar reunião em família, quando muitos deixaram parte da família ao sul do hemisfério. O fato de ter que se conviver com o frio e a neve por alguns meses, enquanto a temperatura média no Brasil beira os 40 graus, também acrescenta uma certa melancolia no ar. Alguns aproveitam o fim do ano, para rever o Brasil e os familiares. Outros, se alegram em comemorar as festas americanas com amigos, no melhor estilo Tio Sam. E muitos dos que estão no Brasil, aproveitam justamente essa época do ano para fazer turismo nos Estados Unidos e, claro, encher as malas com algumas comprinhas!
Reproduzo abaixo um trecho do romance “Além das Fronteiras“, onde a personagem Luna sente saudades da terra natal durante a celebração de Thanksgiving. E você, como se sente nessa época do ano? Gosta do frio e das festas americanas ou sente saudades da terrinha? Você aproveita o final do ano para ir curtir o verão no Brasil ou prefere ficar por aqui? E você que mora no Brasil, aproveita o final do ano para fazer compras aqui nos Estados Unidos? Deixe seu comentário e nos diga como se sente nessa época do ano! Esteja no Brasil ou nos Estados Unidos.
“Após tanto tempo morando nos Estados Unidos, Luna e Vítor haviam adicionado as festas e feriados americanos aos seus calendários. Muitas vezes, comemoravam a mesma data duas vezes ao ano. Como o Dia dos Namorados, ou Valentine’s Day, que no Brasil é comemorado em junho, e nos Estados Unidos, em fevereiro. E o mês de novembro era marcado pelo feriado de Ação de Graças, uma das festividades americanas que Luna mais gostava. Não era muito chegada ao Halloween, por achar uma data um pouco macabra com lojas e casas decoradas de esqueletos, abóboras, vampiros e bruxas. Mas o Dia de Ação de Graças − ou Thanksgiving − era o seu feriado americano preferido.
De todas as partes do país, pessoas viajam e reúnem-se em família para celebrar o Dia de Ação de Graças com fartura de comida e o tradicional peru assado. Para os americanos, essa data, muito mais do que o Natal, significa reunir a família para agradecer a Deus pelas graças recebidas durante o ano. Embora, como tudo nos Estados Unidos, o feriado envolva também uma grande dose de esportes e consumismo. O dia seguinte ao dia de Ação de Graças, conhecido como “sexta-feira negra”, é marcado pelas superpromoções oferecidas por lojas de todo o país. Ainda no escuro da madrugada, filas imensas formam-se em frente às lojas e assim que as portas se abrem, uma massa humana adentra em desespero, empurrando e acotovelando uns aos outros, numa disputa acirrada para adquirir produtos por preços inacreditavelmente baixos.
Ao assistir ao noticiário noturno, Luna chocava-se com o número de pessoas que saíam feridas e pisoteadas na guerra das liquidações das sextas-feiras negras. Sofria com as notícias, como também sofria com as imagens de famílias reunidas celebrando o Dia de Ação de Graças. Mas naquele ano, pelo menos, estava um pouco mais animada, pois celebrava a data junto à família do chefe de Vítor. Embora não fosse a sua, reunia-se com uma família, conformava-se Luna.
− Where are you from? – perguntou o chefe de Vítor, após cumprimentá-la com um aperto formal de mão.
− Sou brasileira – respondeu Luna, com um sorriso largo no rosto.
Luna já se acostumara a responder àquela pergunta. Aliás, durante todos aqueles anos em que moravam nos Estados Unidos, era a pergunta que ela mais ouvia. Quando o casal estava junto, as pessoas deduziam que Vítor era chinês, pois seus traços orientais denunciavam a pureza de sua raça. Mas ficavam intrigadas com a origem de Luna, que, com sua pele clara, grandes olhos azuis e longos cabelos castanhos, podia ser de qualquer raça e provir de qualquer país. Além disso, seu inglês fluente, marcado por um sotaque forte, despertava ainda mais a curiosidade das pessoas. Francesa? Turca? Italiana? Alguns tentavam adivinhar. Para outros, era mais fácil perguntar direto: “Where are you from?”
Sempre com um largo sorriso no rosto, tentando esconder sua leve irritação, Luna respondia que era brasileira. A verdade é que a pergunta, mesmo que ingênua e sem maldade, fazia-a lembrar de que não era de lá. Não pertencia àquele lugar, pois tinha vindo de outro país. A pergunta, por mais bem-intencionada que fosse, fazia-a sentir-se estrangeira. Muitas vezes, tinha uma vontade louca de responder: “Sou de Marte” ou de qualquer outro planeta distante. Mas naquela noite de Ação de Graças, Luna apenas sorriu para o chefe de Vítor e respondeu que era brasileira. “
– Além das Fronteiras, páginas 54 – 57.