Até Onde Você Iria para Mudar o Brasil?
Esse texto é uma adaptação do post publicado primeiramente no blog da autora.
Quase dois meses após as manifestações que levaram milhares às ruas e chacoalharam os pilares da política brasileira, pouca coisa parece haver mudado no Brasil. O resultado prático das manifestações foi conseguir a redução do preço das passagens de ônibus e uma maquiagem geral na lei da corrupção, apresentada sob a nova roupagem de crime hediondo. A mudança na lei, entretanto, não passa de inócua e populista. Dilma e os políticos no poder deram uma certa satisfação ao público e, sem seguida, desviaram o foco para o Programa Mais Médicos. Criaram assim a ilusão de que algo foi feito, enquanto tiraram os holofotes das verdadeiras mazelas que corrompem a sociedade e economia brasileira.
A verdade é que o país permanece essencialmente o mesmo; e o povo, atônito, parece ter retornado às suas atividades e preocupações individuais. Agora, mais do que nunca, é hora de agir! Precisamos escrever o novo capítulo da história do Brasil. Ao invés de esperarmos que o governo atenda as nossas reinvindicações, nós brasileiros devemos começar a mudar o país. Pois é apenas assim que se muda algo.
Mas o que fazer? Se quisermos mudanças reais e sustentáveis, precisamos avaliar nosso comprometimento com a pátria. E a pergunta óbvia é: Até onde iríamos para mudar o Brasil? Como eu, cidadão, contribuo para a corrupção, bagunça e falta de perspectivas que imperam no Brasil? E o que posso fazer para mudar?
Uma das principais diferenças culturais entre o Brasil e os Estados Unidos é o senso de comunidade que os americanos possuem. O americano sabe que se trabalhar em prol da melhoria da escola, do bairro ou da cidade, usufruirá dos benefícios de uma educação pública de qualidade, de um bairro seguro e uma melhor qualidade de vida para seus filhos. Não é raro vermos os americanos organizarem-se em grupos para arrecadar dinheiro para uma causa, limpar o jardim da escola pública do bairro ou mesmo influenciar a política regional. Os americanos sabem que as grandes mudanças acontecem com pequenas atitudes.
Um dos principais problemas do Brasil, apontados pelos manifestantes, é a corrupção. Entretanto, reclamamos de políticos que usam jatos da FAB para levar amigos e familiares aos jogos esportivos, mas por outro lado, não declaramos o imposto de renda devido; não damos nota fiscal; roubamos a TV a cabo do vizinho e falsificamos carteirinha de estudante. Reclamamos dos políticos que enfiam dinheiro na cueca, enquanto molhamos a mão do guarda de trânsito para evitar uma multa.
No discurso, todos são contra a corrupção, mas, no dia-a-dia, alguns pequenos atos também representam desvios de conduta e devem ser repensados. Ao fazer um pequeno ato de corrupção, consolidamos e aceitamos o ato maior. Grande ou pequeno, feito na esfera pública ou privada, corrupção é sempre corrupção, e tem o poder de corroer a ética e moral de uma sociedade.
Outro ponto em que devemos mudar, a fim de mudarmos o país, é aumentarmos nossa participação ativa como cidadãos. Ao invés de apenas reclamarmos que não há verbas para as escolas públicas, precisamos participar ativamente e pensar em formas de melhorar a educação do nosso povo. Para construir um país melhor, é necessário o envolvimento em atividades voluntárias, que tragam não apenas benefícios individuais, mas para a comunidade em geral. Saímos às ruas para exigirmos nossos direitos, mas não podemos nos esquecer de nossos deveres.
Enquanto não entendermos que o país não será salvo por um governante que saca a espada às margens do Ipiranga, o gigante permanecerá dormindo. É o próprio povo que, consciente de seus direitos e deveres como cidadão, constrói, no dia-a-dia, o futuro da nação.